segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sonhos de Mulheres: plenitude em Eros

O filme Sonhos de Mulheres (1955) de Ingmar Bergman me parece uma reatualização do mito do ser mulher (“mito” aqui entendido no sentido de histórias que conferem significação à existência humana). Não é preciso discorrer muito para expor sobre o que esse mito nos revela – de que a mulher é, por excelência, fadada às paixões, sobretudo, à “paixão erótica” (de Eros), que vai além da pulsão da libido, uma espécie de afecção da alma que busca a plenitude num outro, objeto de seu amor, de forma que a falta  desse outro torna a vida, por assim dizer, vazia de sentido.

O enredo de Sonhos de Mulheres concentra-se, obviamente, nos desejos e frustrações de duas mulheres: Suzanne, que é uma mulher emancipada e dona de uma oficina de moda bem sucedida, mas vive atormentada pelo amor sem perspectiva dedicado a um homem casado; e Dóris, uma jovem modelo da oficina de Suzanne, aparentemente fútil, que vive aflita com a vida ordinária que leva ao lado do pouco refinado noivo. A ação fílmica inicia-se com uma viagem feita por Suzanne, para realizar uma seção de fotos de sua coleção de moda, cuja modelo representante será Dóris.  Não por acaso, Suzanne escolhe a cidade de seu amante para realizar esse trabalho, uma vez que é movida pelo desejo ardente de revê-lo. Já Dóris vê nessa viagem a possibilidade de fuga do comum, do cotidiano, rumo ao glamour, à plenitude do luxo.  Talvez por isso as ações de Dóris me pareceram menos instigantes, pela conduta fútil e pueril da personagem. 
           

 Voltando ao tema do arrebatamento amoroso, ou melhor, erótico, pelo qual miticamente as mulheres são tomadas, com as ações de Suzanne, Bergman faz valer a afirmativa de que o “termômetro da mulher é o amor”. A maturidade e o discernimento que a personagem parece ter não são suficientes para dissipar a dependência afetiva em relação ao amante. A falta completa de autonomia diante da paixão faz de Suzanne uma heroína trágica. Heroína, porque a mulher que sofre de amor tem sua compensação, já que o amor, de alguma forma, traz a nobreza da entrega. Para os homens, a dor de cotovelo é ridícula, como diz Jabor: “A mulher enganada tem ares de heroína, o homem corno é um palhaço.”