segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Velho Testamento Em Um Novo Saramago

Caim, mais recente obra de José Saramago, bem que poderia ser "O Velho Testamento segundo Deus", já que aborda ficcionalmente os primeiros livros da bíblia, aproximando-se do tão conhecido O Evangelho segundo Jesus Cristo. Mas não foi a opção do escritor português.

Em Caim não há a profundidade e seriedade dos eventos, nem o tom humanista dado aos personagens bíblicos como se dá na primeira investida de Saramago sobre as escrituras cristãs. No livro recente, tudo se dá de imediato, de maneira sucinta, o próprio livro é bem reduzido em suas 180 páginas. A ação, outroe xemplo, é bastante enxuta. O leitor em poucas páginas transita da criação para a morte de Abel. Até mesmo as ironias e as críticas às contradições da Bíblia são apontadas objetivamente, em frases diretas, sem rodeios. Recurso estilístico para se aproximar das passagens bíblicas, também de trechos curtos? Intenção de fugir totalmente do fantasma da comparação ineviável com o outro romance? Mesclar tradição e modernidade? Talvez tudo isso, mas acaba não sendo o bastante, pois  aproxima-se do que se pode chamar de simplismo.

Embora, como romance independente, narrativa e linguagem fluam, falta justamente o cárater bíblico da linguagem, aproximar-se mais da atmosfera do Antigo Testamento como o próprio autor já demostrou ser possível de se realizar. Caim não é um livro chato, é humorado e várias das principais características do escritor estão presentes nele. No entanto, o livro é muito simplificado para quem poderia doar-se muito mais.  


Ass. Helber