Não sou poeta, não sou escritor, não sou crítico. Apenas preciso estar em contato com a escrita, um mero cooper para o cérebro. Gosto da escrita, não de escitores. Gosto de cinema, não de diretores ou atores. Gosto de música, odeio shows. Às vezes tenho a sensação que vou para alguns shows ou empurrado pela minha mulher ou para ter certeza de que nada substitui um Cd criativo e bem produzido. Salvo algumas exceções, como o show de Maria Bethania, no início do ano, ou alguma expressão da cultura popular em seu real contexto, prefiro ouvir música no meu sofá, em casa. Se num estúdio, um cantor tem a oportunidade de gravar um milhão de vezes até achar o ponto certo, uma música ao vivo irá funcionar quase apenas para fãs. Nada contra quem gosta de música ao vivo, de aura benjaminiana, apenas prefiro o conforto de casa, a qualidade do estúdio e a oportunidade de repetir uma música sem ficar implorando por bis, coisa que nem sei se existe mais nos shows.
Na literatura, se eu encontrasse alguns dos melhores escritores atuais num elevador, trataria eles como trato o desconhecido vizinho do primeiro andar do meu prédio. Baixaria a cabeça ou falaria do tempo. Se Milton Hatoum aparecesse, não perguntaria sobre o complexo narrador de Relato de um Certo Oriente, mandaria apertar o botão do terceiro andar. Se Cristovão Tezza aparecesse, não o elogiaria pelo O Filho Eterno, puxaria o celular para ver a hora. Se Verissimo fosse para o meu andar, não mencionaria suas crônicas dominicais no Estado de São Paulo, tomaria a sua frente e sairia antes dele, desprezando sua idade e o barulho que iria fazer com seu sax no meu vizinho. Se ao menos pudesse pegar elevador com Ed Mort, A velhinha de Taubaté ou os jogadores de Poquer interminável... mas não posso. Dificilmente um bom escritor será mais interessante que sua obra, ou menos imaginário em suas conversas sobre literatura do que seus personagens.
É isso. Cada um escolhe seu próprio inimigo. Uns tomam inimigos os artistas B do BBB, outros os artistas A da Acadêmia. Eu escolho qualquer um artista. Meu lema agora é esse: o artista só serve para usa arte. Minha filosofia de vida a partir de agora é a misantropia cultural. Digo isso porque acabo de adquirir um Cd da trilha sonora da Turma do Snoopy, um jazz fino e maravilhoso, com títulos como Linus e Lucy e Why, Charlie Brown. Independente de tudo, pode ser a música dos Marsalis, mas é também a música do Charlie Brown e do Snoopy. E para mim, isso basta.
Ps - Há um tempo penso em manter postagens realmente regulares. Vamos ver se às segundas e sextas funciona.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
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