segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Provincial Cidade de João Pessoa

Meses atrás, quando a Zizi Possi veio à João Pessoa, no espaço cultural, aventurei-me a ouvi-la contrariando meu hobby de não participar de eventos. Vá lá, o Espaço Cultural é enorme, o show é de graça e termina cedo. Muitos pessoenses foram prestigiá-la naquela noite a ponto da cantora, em pleno palco, parar o show para fotografar várias vezes a plateia, colhendo conteúdo para o seu blog oficial. Na volta do show, eis que me deparo com uma multa no retrovisor do meu carro. Parece irônico e esquizofrênico, mas o Estado da Paraíba promove, supostamente para mim, um evento musical e não dá condições necessárias para que eu o desfrute. 

Mas esta não é a moral da história. A coisa é muito mais profunda. João Pessoa sempre foi uma cidade provinciana. Principalmente em sua agenda cultural: é péssima a programação de cinema, com suas bilheterias comerciais; é péssimo o roteiro de teatro, que espreme, com comédias regionalizadas de mal gosto e as trupes nacionais com atores globais, os poucos que tentam expandir os horizontes deste meio; é péssima a estrutura dos espaços artísticos. Conseguiram, na Festa das Neves deste ano, tornar o belo espaço do Ponto de Cem sufocante. Viram o tamanho do espaço “VIP”, para os organizadores? Absurdo. Viram a forma como montaram os espaços de venda de bebida, formando praticamente muros contra as pessoas? 

O que dá para concluir é que a dita tranquilidade que tanto vendeu pacotes turísticos em João Pessoa virou um tiro pela culatra: o turista agora vem para ficar. O mito de que o desenvolvimento econômico torna nossas vidas melhores é apenas uma falácia de mercado. A cidade vem recebendo centenas de famílias classe média-alta que se amontoaram em novos aranha-céus, que tem tornado caótico os espaços de lazer e que entopem nossas ruas com caros importados, de buzinas prontas para serem usadas na primeira oportunidade. Não culpo os recém cidadãos pessoenses. Sou misantropo, não preconceituoso. 

O que quero dizer é que nossa cidade está mudando muito rapidamente e ninguém consegue se antecipar aos problemas urbanos que estão surgindo e são inevitáveis. E falo isso em todos os âmbitos. O empresário, o governante, o cidadão. Nós, de João Pessoa, olhamos para Recife e Natal com pavor, da violência, dos preços, mas não adotamos nenhuma medida para mostrar que podemos fazer diferentes. Nunca vi tanta criança dormindo no chão do centro da cidade. Enquanto isso, aguardamos, impotentes, omissos, o mito do desenvolvimento nos tornar infelizes.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Misantropia Cultural

Não sou poeta, não sou escritor, não sou crítico. Apenas preciso estar em contato com a escrita, um mero cooper para o cérebro. Gosto da escrita, não de escitores. Gosto de cinema, não de diretores ou atores. Gosto de música, odeio shows. Às vezes tenho a sensação que vou para alguns shows ou empurrado pela minha mulher ou para ter certeza de que nada substitui um Cd criativo e bem produzido. Salvo algumas exceções, como o show de Maria Bethania, no início do ano, ou alguma expressão da cultura popular em seu real contexto, prefiro ouvir música no meu sofá, em casa. Se num estúdio, um cantor tem a oportunidade de gravar um milhão de vezes até achar o ponto certo, uma música ao vivo irá funcionar quase apenas para fãs. Nada contra quem gosta de música ao vivo, de aura benjaminiana, apenas prefiro o conforto de casa, a qualidade do estúdio e a oportunidade de repetir uma música sem ficar implorando por bis, coisa que nem sei se existe mais nos shows.

Na literatura, se eu encontrasse alguns dos melhores escritores atuais num elevador, trataria eles como trato o desconhecido vizinho do primeiro andar do meu prédio. Baixaria a cabeça ou falaria do tempo. Se Milton Hatoum aparecesse, não perguntaria sobre o complexo narrador de Relato de um Certo Oriente, mandaria apertar o botão do terceiro andar. Se Cristovão Tezza aparecesse, não o elogiaria pelo O Filho Eterno, puxaria o celular para ver a hora. Se Verissimo fosse para o meu andar, não mencionaria suas crônicas dominicais no Estado de São Paulo, tomaria a sua frente e sairia antes dele, desprezando sua idade e o barulho que iria fazer com seu sax no meu vizinho. Se ao menos pudesse pegar elevador com Ed Mort, A velhinha de Taubaté ou os jogadores de Poquer interminável... mas não posso. Dificilmente um bom escritor será mais interessante que sua obra, ou menos imaginário em suas conversas sobre literatura do que seus personagens.

É isso. Cada um escolhe seu próprio inimigo. Uns tomam inimigos os artistas B do BBB, outros os artistas A da Acadêmia. Eu escolho qualquer um artista. Meu lema agora é esse: o artista só serve para usa arte. Minha filosofia de vida a partir de agora é a misantropia cultural. Digo isso porque acabo de adquirir um Cd da trilha sonora da Turma do Snoopy, um jazz fino e maravilhoso, com títulos como Linus e Lucy e Why, Charlie Brown. Independente de tudo, pode ser a música dos Marsalis, mas é também a música do Charlie Brown e do Snoopy. E para mim, isso basta.

Ps - Há um tempo penso em manter postagens realmente regulares. Vamos ver se às segundas e sextas funciona.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A semana da trindade: Gil, Chico e Bethania

Não é todo dia que podemos falar ao mesmo tempo de trêss grandes nomes da MPB. O primeiro é Gilberto Gil. Nesta noite de São Pedro podemos escolher o Gil do Reagge ou o Gil do Forró. Explico: hoje na cidade (João Pessoa), o Gil se apresenta no Ponto de Cem Réis, provavelmente com o repertório do seu Cd de forró Fé na Festa; paralelamente no mesmo horário, o Canal Brasil apresenta, em celebração aos documentário e show Kaya n´gan daya, obra em que o cantor baiano homenageia Bob Marley. A programação em nome de Gilberto Gil segue ao longo da semana com outros shows e documentários. Os dois CDs, evidentemente, são recomendados, pois são fases primorosas do cantor, basta ouvir as versões de Qui nem Giló e No cry.

A segunda notícia importante da semana diz respeito ao Chico Buarque. Seu site que revela os bastidores de sua produção liberou a música "Querido Diário" como prévia do lançamento do seu novo Cd. Pela quantidade de acessos ao site e tanta compra antecipada da obra, talvez nem fosse necessário tal tipo de 'panfletagem'. No que diz respeito propriamente à música, parece que vai ao encontro de Carioca, com um pouco de teclados e violinos e com letras com linguagem mais objetiva e menos metáforas.



Por fim, é apenas um lembrete do lançamento do box da Maria Bethânia. Estarão juntos os 25 primeiros discos da carreira da cantora. Oportunamente, ao ouvir o primeiro, de 1965, me surpreendi por não reconhecer essa Bethânia de hoje. Há  muito samba no seu primeiro repertório, um samba feliz e saudoso, próximo dos grandes nomes da era de ouro. Espanta apenas a quantidade de música com o eu lírico em voz masculina. Recomendo O X do problema e Mora na filosofia.