Meses atrás, quando a Zizi Possi veio à João Pessoa, no espaço cultural, aventurei-me a ouvi-la contrariando meu hobby de não participar de eventos. Vá lá, o Espaço Cultural é enorme, o show é de graça e termina cedo. Muitos pessoenses foram prestigiá-la naquela noite a ponto da cantora, em pleno palco, parar o show para fotografar várias vezes a plateia, colhendo conteúdo para o seu blog oficial. Na volta do show, eis que me deparo com uma multa no retrovisor do meu carro. Parece irônico e esquizofrênico, mas o Estado da Paraíba promove, supostamente para mim, um evento musical e não dá condições necessárias para que eu o desfrute.
Mas esta não é a moral da história. A coisa é muito mais profunda. João Pessoa sempre foi uma cidade provinciana. Principalmente em sua agenda cultural: é péssima a programação de cinema, com suas bilheterias comerciais; é péssimo o roteiro de teatro, que espreme, com comédias regionalizadas de mal gosto e as trupes nacionais com atores globais, os poucos que tentam expandir os horizontes deste meio; é péssima a estrutura dos espaços artísticos. Conseguiram, na Festa das Neves deste ano, tornar o belo espaço do Ponto de Cem sufocante. Viram o tamanho do espaço “VIP”, para os organizadores? Absurdo. Viram a forma como montaram os espaços de venda de bebida, formando praticamente muros contra as pessoas?
O que dá para concluir é que a dita tranquilidade que tanto vendeu pacotes turísticos em João Pessoa virou um tiro pela culatra: o turista agora vem para ficar. O mito de que o desenvolvimento econômico torna nossas vidas melhores é apenas uma falácia de mercado. A cidade vem recebendo centenas de famílias classe média-alta que se amontoaram em novos aranha-céus, que tem tornado caótico os espaços de lazer e que entopem nossas ruas com caros importados, de buzinas prontas para serem usadas na primeira oportunidade. Não culpo os recém cidadãos pessoenses. Sou misantropo, não preconceituoso.
O que quero dizer é que nossa cidade está mudando muito rapidamente e ninguém consegue se antecipar aos problemas urbanos que estão surgindo e são inevitáveis. E falo isso em todos os âmbitos. O empresário, o governante, o cidadão. Nós, de João Pessoa, olhamos para Recife e Natal com pavor, da violência, dos preços, mas não adotamos nenhuma medida para mostrar que podemos fazer diferentes. Nunca vi tanta criança dormindo no chão do centro da cidade. Enquanto isso, aguardamos, impotentes, omissos, o mito do desenvolvimento nos tornar infelizes.
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